Vidas com sentido de missão

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Conheci um padre francês que aos 50 anos de idade tomou a decisão de vir ao Brasil para aqui trabalhar como missionário. Ao dirigir-se ao seu bispo para apresentar o pedido foi surpreendido com um sonoro “não”. Porém, a sua veia missionária não permitiu que ele desistisse do seu propósito e por longos 10 anos, a cada ano, voltava ao seu prelado para suplicar-lhe a tão desejada permissão. Ao cabo desse período, morreu o bispo e chegou o sucessor. Na primeira audiência que teve com o novo superior expôs-lhe a já habitual súplica. Para a sua surpresa foi-lhe concedida a possibilidade de partir como missionário para o Brasil. Assim, aquele padre chegou à Terra de Santa Cruz aos 60 anos. Deus concedeu-lhe aproximadamente 25 anos em terras brasileiras até à data da sua morte.

Isso aconteceu há mais de 50 anos. Graças a este homem determinado, muitos jovens de então encontraram o sentido de missão em suas vidas e se puseram também no seguimento de Jesus, nos diversos lugares que a missão indicava. Eu também tive a graça de encontrá-lo há mais de 40 anos e ter recebido dele os conselhos e a orientação que me colocaram no caminho da vocação sacerdotal. Lembro-me que quando se perguntava por que perseverou durante 10 anos suplicando ao bispo poder vir ao Brasil, ele respondia dizendo que sabia que aquela era a vontade de Deus para Ele.

O início do mês de outubro, mês missionário, faz-me sempre lembrar do valor desses homens e mulheres. Deixando seus países semearam em outras terras a semente do Reino de Deus e deixaram marcas de sua passagem na vida de tantas pessoas. Louvado seja Deus pela coragem infundida em seus corações! Sem a sua presença a história pessoal e comunitária de muita gente e de muitos lugares seria outra.

A Baixada Fluminense é devedora a tantos missionários e missionárias que adotaram este lugar como nova pátria, amaram este chão, por ele deram seu suor e seu sangue e possibilitaram, assim, uma nova história na vida de tantas pessoas.

Recordar essas figuras marcantes é um doce dever que nos move a pensar no sentido da vida como missão. A palavra missão está associada originalmente ao envio. Existe missão porque existe alguém que envia. Fomos enviados, desde o nosso batismo, a sermos sinais da presença do Reino de Deus e a proclamá-lo através de nossos gestos e de nossas palavras.

O mês missionário tem a força de nos recordar esse chamado e de nos comprometer ainda mais com um estilo de vida de quem vive a vida como dom para os outros.

O Papa Francisco recorda que “a nossa vida na terra atinge a sua plenitude, quando se transforma em oferta”, e que “a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” (Ex. Apost. Cristo vive, nº 254).

O exemplo apresentado acima nos faz concluir que do fato de se viver a missão dependem desdobramentos importantes para a nossa vida pessoal e para a vida dos que convivem conosco. A missão acontece no lugar onde estamos: família, trabalho, comunidade eclesial. A partir daí se propaga e alcança lugares e pessoas que nem sequer podemos imaginar.

Renovemos o propósito de maior compromisso com atitudes e palavras de uma “Igreja em saída”.