São Paulo declara ter recebido dos apóstolos a recomendação de não se esquecer dos pobres em suas atividades pastorais e, a seguir, confirma que sempre procurou fazê-lo (cf. Gl 2,20).
Este imperativo é válido sempre. Ao longo da história do cristianismo é uma das marcas da autenticidade da verdadeira experiência de fé. As diversas formas de pobreza sempre provocaram o testemunho dos cristãos que procuraram ir além das respostas assistenciais, provocando reflexões sobre as raízes da verdadeira indigência.
O exemplo parte do próprio Cristo. Ele “sendo rico se fez pobre para enriquecer a todos” (2Cor 8,9). A escolha pelo caminho da pobreza marca toda a sua existência desde Belém, passando por Nazaré, até a consumação de seus dias em Jerusalém. O pobre por excelência é Cristo. Ele mesmo quis se identificar com os famintos, os doentes, os pobres. Vivia rodeado das grandes expressões de pobreza do seu tempo e para todos tinha um olhar de predileção.
Neste domingo, 14 de novembro, a convite do Papa Francisco, celebraremos o 5º Dia Mundial dos Pobres. Esta iniciativa é bastante significativa no contexto do serviço próprio que o Papa presta à Igreja e a todo o mundo. De alguma forma, ele faz chegar até nós aquele mesmo convite que Paulo recebera dos apóstolos.
A lembrança dos pobres é parte importante da missão que, como cristãos, somos chamados a desempenhar em todos os tempos. Talvez alguém pudesse pensar que é inútil apelar para essa lembrança, pois os pobres sempre existiram. Afinal, o próprio Jesus disse: “pobres sempre tereis convosco”. Porém, o fato de encontrá-los pelos nossos caminhos não significa que os tenhamos em conta. Lembrar dos pobres é dar importância à sua presença entre nós, enquanto eles nos lembram o Cristo e nos convidam a cuidar de Cristo hoje concretamente neles.
Na reflexão que o Papa Francisco nos ofereceu, por ocasião dessa jornada, diz que “somos chamados a descobrir Cristo neles”. Além disso, lembrou-nos que a afirmação de Cristo de que sempre teríamos pobres conosco indica que “a sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida que não prevê delegações. Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”.
Visitando a cidade de Assis, neste fim de semana, o Papa exortou a dar voz aos pobres, tornando-os protagonistas da história e não um incômodo. A presença dos pobres por si só denuncia a existência de uma pobreza que é causa e efeito de todas as outras: a pobreza interior, de quem se move pela avidez do egoísmo que cega e impede de ver no outro um irmão ao qual interessar-se.
Por ocasião desse dia mundial dos pobres muitos eventos são organizados nas paróquias e em outras instituições ligadas à Igreja católica. Participemos!
No entanto, a finalidade deste dia não é a de simplesmente criar eventos. Esta jornada deve se tornar elemento importante para o fomento de uma cultura nova, marcada pela solidariedade. Desse modo, poderemos ser capazes de superar a indiferença que muitas vezes cerca as relações com os irmãos e irmãs desprovidos do mínimo necessário.