Quando se visita a Basílica da Natividade, em Belém, imediatamente chama a atenção ao peregrino da Terra Santa, as dimensões da porta de entrada da bela Igreja que contém o tesouro da gruta do nascimento do Salvador. Impressiona o fato de ser uma porta demasiado pequena. Por ela só se pode entrar, abaixando-se. Este detalhe arquitetônico tem suas razões históricas, que aqui não é o caso de abordar, mas é também portador de uma mensagem que está no coração da mensagem do Natal.
Deus abaixou-se! Escolheu uma cidade periférica da Galileia, que sequer aparecia mencionada na Sagrada Escritura, para entrar neste mundo. Quis depender da resposta de uma jovenzinha para poder torná-la porta do céu nesta terra. Escolheu nascer em um lugar onde ninguém escolheria voluntariamente ter nascido, tendo por berço uma manjedoura, o lugar da comida dos animais. Teve como seus primeiros visitantes os pastores que guardavam suas ovelhas na região. Lembremos que, apesar de os pastores serem figuras bucólicas de nossos presépios, na época de Jesus eram pessoas que não gozavam de boa fama, pelo estilo de vida que levavam. E aqui poderíamos prosseguir adiante na lista das várias expressões das “descidas” de Deus.
Se Ele desceu foi por amor. Ao ser humano prostrado na terra pelo peso de seus pecados, com esse gesto Ele o elevou. Desceu para fazer subir a humanidade inteira. Dessa maneira mostrou de forma extraordinária que qualquer ser humano é único. O mais desprezado dos seres humanos, como Ele mesmo o foi na noite de Natal, tem uma dignidade ímpar. No rosto do Menino Deus brilha a beleza de toda a humanidade. Nenhuma outra criatura foi elevada a tal dignidade. Deus se fez um de nós, revelando assim o seu projeto de familiaridade e proximidade de toda pessoa humana.
No auge da sua vida aqui na terra quis ainda continuar seu movimento de descida quando, na última Ceia despiu-se da bela veste que trazia, a “túnica sem costura”, para colocar o avental do escravo que lava os pés de seus senhores. Com esse gesto revela que Deus se abaixa para servir a humanidade com o serviço da salvação que só Ele pode nos dar, por isso seu nome é Jesus, “Deus salva”.
Chegados a este novo Natal, do ano 2021, em meio a alegrias e a muitas dores que marcam este nosso tempo, somos convidados a entrar na gruta de Belém. Porém, para isso, lembremos que a porta é baixa e estreita, portanto, ela não só acena para o que Deus fez, mas também mostra como deve ser o nosso acesso a Ele.
Para entrar na gruta de Belém é preciso muito mais do que boas emoções. O Natal também é carregado de bons sentimentos, é verdade; mas é preciso ir além: traduzir em gestos concretos o amor. Humildade e serviço talvez sejam os gestos que mais nos ajudam a viver melhor o espírito do Natal. A humildade de quem se reconhece necessitado de Deus, do seu amor, da sua misericórdia e que, por isso, se sabe irmão, irmã, de todas as pessoas. Abaixar-se para entrar naquela porta que é caminho para o encontro com o Senhor.
Junto com a humildade, e precisamente por causa dela, saber-se e tornar-se sempre mais irmãos e irmãs de todos na atitude concreta da disponibilidade e do serviço.
Ajuda-nos a entrar na gruta de Belém o fato de que nesses dias e, depois, ao longo do ano, nos aproximemos de tantos e tantas que precisam de nós e não apenas de nossas coisas. Dar-se e não apenas dar algo de si, eis aqui uma grande lição da Manjedoura.
Entrar na gruta, assumindo o compromisso que ela requer, nos ajudará a celebrar não mais um Natal, mas um novo Natal. Feliz e abençoado Natal!