Este domingo é o “domingo de todos os domingos”, pois nele se celebra a Páscoa do Senhor que dá sentido a todos os domingos do ano, pois neles sempre se celebra a Ressurreição de Jesus.
“Morte e vida duelam”,assim canta a Sequência prevista dentro da liturgia da Palavra. Esta solenidade fala da luta que a humanidade e o cosmos enfrentam e da vitória definitiva de Deus. Desde o Antigo Testamento, o Deus que se revelou a Israel e que se manifestou plenamente em Jesus Cristo é o Deus da vida.
Na celebração da Vigília Pascal a longa lista de leituras proclamadas recorda precisamente as grandes noites da história da salvação. A noite do cosmos na Criação, do nada Deus fez todas as coisas; a noite da fé de Abraão, representando o claro-escuro da própria fé; e, finalmente, a noite da libertação do povo do Egito, atravessando o Mar,e da humanidade inteira com Cristo que ressuscita na madrugada do 1º dia da semana.
Nessas noites da história da salvação, o vazio, a morte e o risco de uma vida escravizada por forças violentas são superados pela ação amorosa do Criador que se faz nosso companheiro de viagem, enfrentando conosco as adversidades de todos os tempos.
É sempre oportuno recordar o sentido desta festa, pois como acontece atualmente com as principais festas cristãs, o brilho da Páscoa pode ficar embaçado pelos apelos do marketing e ser reduzido aos ovos de chocolate.
Nunca foi tão verdadeiro como agora a afirmação de que “o óbvio deve ser dito”. Talvez já não seja tão óbvia a relevância deste evento para a humanidade inteira. Trata-se de um fato que aconteceu na história e que a projetou para além, para uma meta que a humanidade sozinha não poderia suspeitar nem alcançar.“O todo se deu no fragmento”, usando aqui palavras do grande teólogo Hans Urs von Balthasar. O infinito alcançou a história e, assim, a vida do ser humano, em Cristo, se abre a uma eternidade feliz e a sede de vida em plenitude do coração de todo ser humano pode encontrar reposta.
As celebrações pascais este ano ganharam também um sabor de novidade com o retorno de uma presença maior dos fiéis nos ofícios próprios da Semana Santa. Ouvi depoimentos de alguns padres relatando ter ouvido, com certa frequência, da parte de muitas pessoas a afirmação de que havia dois anos não participavam presencialmente.
Embora ainda conservemos algumas medidas de segurança, pois a pandemia ainda não foi completamente vencida, pudemos sentir o calor da volta do povo. A tonalidade das respostas nas celebrações, a vibração do canto litúrgico, o sorriso nos rostos, marcaram a nossa Páscoa de novos sinais da presença do Ressuscitado entre nós.
É significativo que isso aconteça precisamente na Páscoa, pois nela a Igreja experimenta ainda mais a força da sua maternidade espiritual com o Batismo de novos cristãos e o fortalecimento da experiência da fé com a purificação da Quaresma e a recepção dos demais sacramentos da iniciação cristã. Também neste período os fiéis encontram maior disponibilidade para o sacramento da penitência que, além do perdão e das graças que lhe são próprias, oferece ao fiel a oportunidade de uma acolhida pessoal, valorizando assim a sua experiência de fé e de vida, a sua luta e seus sonhos.
Não esquecemos, porém,que seguimos com grandes lutas: novos episódios de violência, tragédias climáticas, guerras, fome, desemprego, indiferenças etc. Seguimos fazendo a experiência do “duelo” entre a vida e a morte. Mas o Cristo Ressuscitado, companheiro da nossa via sacra, sustenta-nos com sua força e nos oferece o horizonte da esperança certa que só Ele, que atravessou a dor e a morte, pode nos dar.
Feliz Páscoa!