Do século XV remonta a tradição dos 14 santos chamados de “auxiliares”, por serem invocados em algumas necessidades especiais. São Jorge é um deles. As manifestações devocionais no dia a ele dedicado revelam a força dessa oração que atravessa os séculos.
Em 303 teria acontecido a morte do “Grande Martir” (megalomartir, em grego), como é chamado no Oriente. Sua profissão? Um proeminente militar, do exército do Imperador Diocleciano. Sua fama é universal, patrono de muitos países e cidades importantes como Portugal, Inglaterra, Gênova, Barcelona, Moscou, Beirute etc. Trata-se de um santo cristão cujos feitos certamente foram tão estupendos que ao seu redor foram criadas muitas lendas, a ponto de no século V o Papa Gelásio I ter proibido a leitura das atas do seu martírio por considerar que continham inverdades. Apesar disso, é fato que não existem bases para se duvidar da existência do santo.No entanto, encontram-se dificuldades para detalhar a sua história e o seu martírio.
As fontes parecem coincidir quanto a origem familiar cristã. Ele teria nascido na Capadócia, em uma região da atual Turquia, no ano de 280. Escolhera a carreira militar, como profissão, e nela teria galgado postos importantes. Assim, antes dos 30 anos foi Tribuno Militar e Conde, chegando a fazer parte da guarda pessoal do imperador, em Nicomédia.
De coração generoso e de espírito profundamente cristão, por ocasião da morte de sua mãe teria dado de esmola aos pobres os bens que herdara da sua genitora, tamanha a sua sensibilidade, além do compromisso cristão, diante dos sofrimentos dos pequenos e pobres.
Seu martírio aconteceu em razão de uma das tantas perseguições que o cristianismo enfrentou nos primeiros séculos de sua caminhada histórica pelo Império Romano. Jorge não teria aceitado a imposição do Imperador de que os soldados romanos deveriam oferecer sacrifícios em honra dos deuses. Desde o início a postura dos cristãos já colocava o tema importantíssimo da liberdade religiosa, de difícil compreensão na antiguidade, hoje colocada como um dos direitos humanos fundamentais, embora em alguns lugares ainda um direito desrespeitado.
Ao ser terrivelmente torturado, Jorge respondia com mais convicção acerca de sua adesão a Cristo e ao seu Evangelho. Seu exemplo arrastou muitos soldados e inclusive se diz que a mulher do Imperador se converteu diante do testemunho corajoso da sua fé em Jesus. Finalmente, teria sido degolado em 23 de abril de 303, na Nicomédia (atual Ismide, na Turquia).
Sua história de uma vida toda de fé e de caridade é muito mais ampla que o conhecido episódio do dragão que aterrorizava a cidade de Salone, na Líbia. Além do dragão, à intercessão de São Jorge se atribuem vitórias enfrentadas pelos cristãos em defesa da fé.
“Batalhas e dragões” descrevem metaforicamente a luta que é a vida de todo ser humano nesta terra. Os santos, durante a vida,não ficaram indiferentes diante das dores de seus irmãos. Após sua morte, no céu, continuam a nos acompanhar, intercedendo por nós.
Os mártires nos provocam hoje também. O fato de preferirem morrer a trair a sua consciência diz muito sobre o valor das convicções cristãs acerca do verdadeiro sentido da vida, ao mesmo tempo que questiona profundamente o relativismo que tende a debilitar o valor da verdade pela qual a vida pode pedir grandes sacrifícios e pela qual vale até mesmo dar a vida.
Que o exemplo atual de São Jorge nos inspire compromisso maior com o testemunho do Evangelho e com a vida de todos, especialmente dos pequenos e frágeis.