O grande milagre de Pentecostes, recentemente celebrado, deu aos Apóstolos e discípulos do Senhor uma capacidade nova de comunicação, de tal modo que a variedade das línguas foi instrumento de união das nações ao redor das maravilhas de Deus. A mensagem de Jesus Cristo, ao longo dos séculos, foi transmitida em épocas e situações geográficas muito distintas. Cada geração pode acolher a novidade do Evangelho e compreender que ela tem a ver com a vida dos seres humanos. O Deus que se revelou a Israel, e cuja plenitude da revelação chegou em Jesus Cristo, é um Deus que se fez companheiro de viagem e entrou de cheio na história humana.
Este preâmbulo nos ajuda a entender “fenômenos” do cristianismo como Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa), padroeiro de nossa amada Diocese de Nova Iguaçu. Amado e venerado no mundo inteiro, em culturas tão diversas, ainda hoje é capaz de mobilizar a fé das pessoas, de níveis culturais e sociais diversos, ao redor do seu testemunho.
A festa religiosa e popular que estamos vivenciando nesses dias não é de hoje, mas tem suas raízes na própria história da nossa cidade. O religioso e o popular se mesclam porque o Evangelho é bem assim. A doutrina cristã não é uma gnose que ilumina o pensamento de uns poucos privilegiados, mas semente de vida nova para todos. Assim, quando acolhida, é capaz de renovar as relações para com Deus, com si próprio e com as outras pessoas, gerando uma nova compreensão de fraternidade, fundada na filiação divina.
Porém, há sempre o risco da perda do sentido da festa. O popular absorver o religioso, ignorando-o ou simplesmente atribuindo-lhe um mero valor folclórico. Ou então, o religioso, equivocadamente entendido, ignora a tradução cultural do valor da fé. São João Paulo II afirmava que uma fé que não se torna cultura é uma fé ainda pouco enraizada. Ora, quando essas realidades não se encontram, a festa cristã tem o seu sentido prejudicado. Assim, em vez de renovação e congraçamento, torna-se mera ocasião de diversão e dispersão, e não ilumina a realidade que se vive depois no dia a dia.
A festa cristã, ao contrário, é ocasião para redescobrir as raízes da nossa alegria, de tal modo fundamentada, que nos sustentam nas horas de dor e de luto. A festa cristã reúne as pessoas, ao redor de ideais comuns, capazes de gerar um novo interesse pela comunidade e pela superação das divisões. Por exemplo, normalmente aquilo que se angaria numa festa patronal serve de suporte a obras em benefício da própria comunidade. A festa cristã valoriza a memória do povo, uma vez que nos liga a tradições dos antepassados que construíram o hoje e, dessa forma, nos relança no empenho de construir a sociedade nos valores fortes do Evangelho.
Vivemos a festa de Santo Antônio deste ano no marco da retomada de um possível pós pandemia e também da Campanha da Fraternidade que nos impulsionou a aproximar a mensagem do Evangelho ao mundo da educação. Que o exemplo de Antônio, com quem aprendemos que “o caminho da sabedoria é o caminho da humildade”, desperte nossa consciência para a necessidade de assumirmos, como cristãos e como cidadãos comuns, o nosso protagonismo no lugar onde Deus nos plantou. Em tudo a educação está presente e todos têm um papel importante a exercer.
Além de contar com a ajuda de Deus, a renovação religiosa, cultural, antropológica, social e econômica que sonhamos e ansiamos supõe que cada qual assuma sua responsabilidade, no lugar onde está.
Santo Antônio, na obediência ao seu estado de vida, deu de si mais do que pensava poder dar, porque quando uma pessoa se deixa levar pela ação de Deus é capaz de oferecer o que só Deus pode dar. Importa na vida, portanto, deixar-se guiar pela força do Espírito de Deus para que as Suas maravilhas continuem acontecendo na vida da humanidade. Para um tempo de necessidade de renovação nada melhor do que invocar o Espírito de Deus, único capaz de fazer novas todas as coisas. Que Ele suscite neste tempo novos “Antônios”.