Neste aniversário dos 192 anos de nossa cidade, como de costume, nos reunimos aqui, diante da presença de Deus, com o povo e autoridades civis e militares aqui representados, para um gesto de gratidão, de louvor e de súplica, pois sem isso a memória desta data ficaria incompleta.
Nossa celebração é um ato de reconhecimento sincero de que de Deus tudo recebemos, dele dependemos, por isso lhe pedimos fazer frutificar o trabalho de nossas mãos. Este pedido é particularmente importante no contexto de novos mandatos no executivo e no legislativo.
Esta celebração também tem um quê de compromisso. A oração para ser coerente deve provocar revisão das decisões para que estejam sintonizadas com o querer benevolente de Deus. Em palavras do Papa Francisco, “uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183).
Amamos a cidade que vivemos e queremos o seu bem. Por isso, queremos nos comprometer, como cidadãos, a deixar-nos inspirar pelos valores autênticos, da caridade, da solidariedade, da reconciliação, da paz, da justiça… para colaborarmos para um presente que garanta um futuro melhor, olhando com esperança o nosso presente, não esquecendo o nosso passado de lutas e glórias.
Neste sentido parabenizo o município por tantas iniciativas de resgate da memória histórica de nossa gente. Concretamente parabenizo pelo lançamento da pedra fundamental do Museu de Arqueologia e Etnologia de Nova Iguaçu, o 1° do Estado do Rio e o 2° da Região Sudeste. Um passado de tanta relevância não pode ficar enterrado, porque ele fala de experiências que sustentam o nosso hoje…as pedras falam também de nós.
O Evangelho é sempre inspirador da nossa ação pessoal e social, inspirou os homens e mulheres de ontem, pode também inspirar a nossa ação neste nosso presente tão desafiador.
As cenas narradas no Evangelho que ouvimos nos falam de um Jesus que se aproxima da realidade dos sofredores e lhes oferece aquilo que estava ao seu alcance, ou que estava no seu poder de realizar. Pessoas que viviam à margem da sociedade se atrevem a buscar Aquele que elas sabiam que poderia lhes restituir a dignidade e a saúde. Jesus se preocupa pela pessoa toda, toca o corpo e a alma, instrui, cura, alimenta…porque veio para salvar a humanidade toda.
Realiza todos esses feitos porque coloca o seu poder a serviço. Jesus sabe que todo o poder recebido não era para benefício pessoal, mas para o bem de todos, especialmente dos mais necessitados e pobres e dessa maneira quer usá-lo e, e de fato usa. Tinha clareza de sua missão salvadora e se dedica a ela, servindo-se das circunstâncias boas e ruins para realizar o projeto do Reino. Depois de sua partida, São Pedro recordará nos Atos dos Apóstolos que Ele passou fazendo o bem (cf. At 10, 37).
Tanto bem pode ser feito ao nosso redor se usarmos o poder para o verdadeiro bem de todos, capaz de superar os obstáculos pequenos e grandes (e sabemos que não são poucos!). Todos nós temos a missão de procurar fazer o bem, cada um no lugar que ocupa na família, na Igreja e na sociedade. E na vida pública, cada um, a seu modo, é chamado a fazer crescer o bem comum, ou seja, aquele bem que alcança a todos.
O Papa Francisco nos lembra que “a política não é a mera arte de administrar o poder, os recursos ou as crises. A política é uma vocação de serviço.” O que todos nós esperamos é que a arte da política reencontre essa sua vocação. Esta é, sem dúvida, a condição fundamental para que ela recupera a necessária credibilidade. Mas, atenção, a consciência e a atuação política é tarefa de toda a sociedade e não apenas daqueles que foram eleitos para representar o povo. O interesse pela vida pública deve ser um lugar de corresponsabilidade. Oxalá Deus nos conceda alcançar esse ideal de verdadeira participação de todos para a defesa do bem comum e não para defender o próprio poder, a satisfação das riquezas ou uma ideologia pessoal!
Mas, se me permitem, gostaria de fazer um último aceno ao tema do Jubileu.
O encontro entre Cristo e os doentes e aflitos tem uma motivação de fundo. Aquelas pessoas olham para Jesus com esperança e sabem que Ele é o único capaz de não os defraudar. Contamos com Deus! Esta é a razão principal da nossa esperança.
Este ano temos no nosso horizonte “a esperança que não decepciona” (Rm 5). Ao proclamar o jubileu dos 2025 anos do nascimento de Cristo, o Papa Francisco propôs que se pudesse reconhecer o papel transformador da esperança, pois todo jubileu se vive a partir de experiências concretas de perdão, reconciliação, libertação e partilha.
Que nos empenhemos todos a deixar sinais de esperança no caminho que estamos dispostos a trilhar.
Que a força da esperança encha o nosso presente! «Confia no Senhor! Sê forte e corajoso, e confia no Senhor» (Sal 27, 14).