Celebramos hoje a festa do nosso santo Padroeiro, não apenas Padroeiro da nossa Catedral, mas da cidade e de toda a Diocese de Nova Iguaçu. Antes mesmo de ser Diocese, a nossa região já manifestava sua devoção ao Santo (a Igreja da Prata é de 1773). Por isso, nesta missa rezamos pela cidade e por toda a Diocese de Nova Iguaçu.
Antônio de Pádua ou de Lisboa. Leão XIII, tentando dirimir a questão do nome, o chamou de Santo do mundo inteiro. São João Paulo Il, numa visita que fez ao lugar do seu nascimento em Lisboa, disse que ele não era nem de Lisboa, nem de Pádua, mas era do céu.
Tornou-se popular, talvez o santo mais popular do mundo, pelos seus inúmeros milagres, sua fama de recuperar o perdido, de arranjar casamentos e pelo seu amor aos pobres. Porém, da sua biografia destaco primeiro um aspecto que o aproxima muito aos homens e mulheres do nosso tempo: uma santa inquietude, que não o deixa no lugar, mas o faz peregrinar, caminhar ao encontro de sua verdade, de sua mais plena identidade. Um homem com sede de sentido e que se deixa levar por Deus para encontrar-se.
Um santo inquieto em busca de realizar os desejos do seu grande coração que aprende a discernir os caminhos de Deus nos vaivéns da sua história pessoal e da história de seu tempo.
Aos jovens, em etapa importante de discernimento vocacional, mas também a todos nos convém sempre andar discernindo o que Deus espera de nós no momento concreto da vida e da história. O Papa Francisco lembrava aos jovens as perguntas importantes a fazer nessas horas: “Conheço-me a mim mesmo, para além das aparências ou das minhas sensações? Sei o que alegra ou entristece o meu coração? Quais são os meus pontos fortes e as minhas fragilidades? E, logo a seguir, vêm outras perguntas: Como posso servir melhor e ser mais útil ao mundo e à Igreja? Qual é o meu lugar nesta terra? Que poderia eu oferecer à sociedade?” (ChV, 285).
A oração é indispensável para poder ouvir a Deus e responder ao seu chamado. O tema da festa este ano se inspirou no ano da oração, como o Papa Francisco indicou para preparação mais imediata do jubileu de 2025, o jubileu da esperança. “Com Santo Antônio pedimos: Senhor, ensina-nos a rezar”.
“A oração é o respiro da vida”, disse o Papa Francisco. Em tempos de tanto sufocamento, desrespeito à vida do ser humano, ameaças, incertezas, é oportuno oferecer a possibilidade de respirar para recuperar o sentido da vida humana. Foi precisamente na oração que Antônio aprendeu que as circunstâncias da vida são lugares para o encontro com a vontade de Deus. Seus 36 anos foram vividos com a intensidade de quem vive a vida com sentido divino e não se deixa paralisar pelo conforto do já alcançado.
Diante das tantas possibilidades de se tornar homem importante e de destaque na sociedade de Lisboa onde nascera, decide entregar a sua vida a Deus. Viveu muitos anos em Coimbra na família religiosa dos cônegos regulares agostinianos. Mas não se acomodou. Um encontro com as relíquias dos mártires franciscanos que tinham acabado de ser martirizados no Marrocos faz com que ele decida dar a vida por Cristo. Sai de Coimbra e vai para Marrocos, entrando na família franciscana, com desejo do martírio. Lá chegando fica gravemente enfermo, tem que regressar. Na viagem de volta uma forte tempestade obriga a embarcação a ancorar na costa italiana, mais precisamente na Sicília. Dali vai ao encontro de Francisco, faz-se um humilde frade, vivendo num convento, dedicando-se à oração, à meditação da Palavra de Deus, a trabalhos simples do cuidado da casa, até que um dia, por acaso, tem que dirigir uma palavra numa ordenação por causa da ausência do pregador e descobrem o que guardava o coração daquele homem, os tesouros das Sagradas Escrituras, a tal ponto que foi apelidado de “Arca da Aliança”.
Um outro elemento importante da sua biografia, talvez menos acentuado por nós seja precisamente o que oração fez em Antônio: transformou-o em boca de Deus, profeta!
Ele se tornou grande, e ainda hoje o é para milhões de devotos em todo o mundo, porque soube ouvir aquela Palavra que lhe deu vida, e soube devolvê-la aos outros, de forma incansável, movido pela mesma compaixão que movia Jesus à missão e a pedir que se rezasse para o Pai enviar trabalhadores para a messe.
Peçamos hoje a Santo Antônio que nos ajude neste caminho de seguimento, de discernimento, de escuta da sua Palavra, para que ela possa nos abrir novos caminhos. Hoje a Igreja é desafiada a encontrar caminhos novos para a evangelização, em tempos de grandes crises mundiais, mas que são também oportunidades de renovação pessoal e eclesial. Assumimos como compromisso diocesano, no nosso Plano Pastoral, uma atenção especial à oração, ao estudo e a partilha da Palavra de Deus.
Essa tarefa que hoje se impõe à Igreja, não é possível, sem homens e mulheres animados pelo Espírito Santo e cheios de uma grande paixão por Cristo e pelos irmãos e irmãs. O Papa falava na EG da necessidade de evangelizadores com Espírito.
O segredo de Antônio foi sua paixão por Cristo e pelos seus irmãos, especialmente pelos pobres. A oração autêntica transforma a vida e a missão.
Em um sermão ele dizia: “Por ti nós deixamos tudo e nos fizemos pobres. Mas, porque és rico, nós te seguimos para que nos enriqueças… Nós te seguimos, como a criatura segue o Criador, como os filhos seguem o Pai, como as crianças seguem a mãe, como os famintos o pão, como os doentes o médico, como aqueles que estão fatigados a cama, como os exilados a pátria” (Sermones II).
Deixemo-nos inspirar pela busca e a oração de Santo Antônio: com ele, recupera-se o perdido, rompe-se a dura prisão e do alto do furacão cede o mar embravecido!