“A mim o fizestes”

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O versículo de Mateus 25,40, que diz: “Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”, é um dos ensinamentos mais poderosos de Jesus, ressaltando a importância das ações de amor e compaixão no cotidiano da vida cristã. Esta passagem, parte da parábola do Juízo Final, oferece uma profunda reflexão sobre a nossa responsabilidade social e espiritual.

No ultimo dia 27 de setembro, aconteceu a formatura de 22 adolescentes que estão cumprindo medida de internação no CAI Baixada, na cidade de  Belford Roxo. O CAI Baixada abriga adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em regime de internação (ficam privados de sua liberdade devido a pratica de algum ato infracional).

A Casa do Menor São Miguel Arcanjo começou uma parceria com esse local levando cursos de profissionalização, e dando oportunidade para esses adolescentes a  recomeçarem através de uma profissão, e que quando saírem desse sistema poderão exercer.

Levar a Pedagogia Presença nesse ambiente foi um desafio para toda a equipe e uma oportunidade de visitar Jesus no rosto de cada menino que se encontra preso, ajudando a cada um a entender que, apesar das condições que estão vivendo nesse momento, também é uma possibilidade de um livramento de algo pior.

Próxima de completar 38 anos, a Casa do Menor esta passando um processo de ressignificação, tentando dar respostas ao novos gritos que estão surgindo nos últimos  tempos e que para nos é uma possibilidade de evangelização. Ouvir esses gritos, implica cada vez mais exercitar o amor de Deus e ajudar desde já a construirmos um mundo unido onde as diferenças serão superadas pela vivencia da Palavra em cada ato concreto de amor pelo próximo.

Pedagogia Presença

As visitas em sistemas socioeducativos desempenham um papel crucial na ressocialização de jovens em conflito com a lei. Essas interações proporcionam um espaço de conexão entre os internos e suas famílias, contribuindo para o fortalecimento de vínculos afetivos e a construção de um ambiente de apoio emocional. A visitação é regulamentada, com horários e regras que visam garantir a segurança e o respeito.

Durante as visitas, é comum que haja atividades recreativas e momentos de diálogo, permitindo que os jovens compartilhem suas experiências e desafios. A presença familiar pode ser um fator determinante na motivação dos internos para a mudança, sendo fundamental para o sucesso do processo socioeducativo. Para que esses encontros sejam eficazes, é necessário que haja um acompanhamento psicológico, que ajude a abordar questões emocionais e a promover a reflexão sobre comportamentos. A ultima intenção dessas visitas é facilitar a reintegração dos jovens à sociedade, preparando-os para um futuro mais positivo.

Para além das visitas, a Casa do Menor São Miguel Arcanjo está vivenciando uma nova experiência nesse sistema para além da oferta de cursos profissionalizantes, sendo presença na vida desses adolescentes oriundos na sua grande maioria das periferias do Estado do Rio de Janeiro e que diante de vários fatores entraram em conflito com a lei.

Interessante ressaltar que a Casa do Menor nasceu justamente após o assassinato de Carlos Martins (Pirata), que na década de 80 foi acolhido pelo Padre Renato Chiera, em sua paróquia, pois não existia ainda a instituição e o mesmo estava pouco tempo no Brasil.

Passado quase 38 anos a instituição vem repensando de como atuar nos novos apelos da sociedade e o sistema socioeducativo vem como um novo desafio e que alguns instrutores com muito afinco e sobretudo experimentando a nossa pedagogia na pratica conseguiram ao longo de 3 meses preparar esses adolescentes para o mundo do trabalho ajudando os internos a se descobrirem como filhos amados, descobrindo seus valores e repensando suas atitudes após o cumprimento da medida de internação.

Não é fácil o ambiente de internação, principalmente para adolescentes, pois é um momento singular de desenvolvimento, mas com um novo olhar da proposta da Pedagogia Presença que a Casa do Menor já desenvolve há quase 38 anos, é possível sim descobrir uma nova maneira de viver, onde a presença de referência de pessoas que os acolham será fundamental no processo de ressocialização dessa garotada, afinal eles ainda são adolescentes e tem o direito de pelo menos sonhar.

Texto: Diácono Carlos André (Cooperador da Casa do Menor)
Fotos: Filipe Marques –  Comunicação da Casa do Menor