59ª Assembleia Geral da CNBB: Lugar da sinodalidade eclesial, inspirado pela comunhão e participação dos Bispos a serviço da missão

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Com o tema central “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, mesmo tema da 16ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Sínodo 2023, convocado pelo Papa Francisco, a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi realizada entre os dias 25 a 29 de abril no formato digital (Online), por meio da Plataforma Zoom.

A cada dia, os bispos participaram das sessões divididas em dois blocos, manhã e tarde. Na parte da manhã, das 8h às 12h e, na parte da tarde, das 14h às 17h. A segunda etapa, no formato presencial, acontecerá entre os dias 29 de agosto e 2 de setembro, no Santuário Nacional de Aparecida (SP).

Segundo Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e Secretário-Geral da CNBB, “a opção pela escolha do mesmo tema do Sínodo 2023 se deu em razão de buscar um alinhamento e atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE 2019-2023) da Igreja no Brasil à luz dos caminhos da Igreja que serão propostos pelo Sínodo 2023. As DGAE serão renovadas na 60ª assembleia do episcopado brasileiro em 2023”, disse o bispo.

Um instrumento de comunhão

Em sua raiz, a Assembleia Geral é um instrumento sinodal, pois, como consta o Regimento da entidade, trata-se do “órgão supremo da CNBB, expressão e realização maiores do afeto colegial, da comunhão e corresponsabilidade dos Pastores da Igreja no Brasil”, com a finalidade de realizar os “objetivos da CNBB, para o bem do povo de Deus” (art. 27) e para fazer “crescer a comunhão e a participação” (art. 28).

Participação 

Ao todo participam da Assembleia mais de 300 bispos, lembrando que no Brasil, possuímos 478 bispos, sendo 317 no exercício do Governo Pastoral de alguma Igreja Particular e outros 161 são eméritos (aposentados). Também participam da Assembleia Geral da CNBB os administradores diocesanos e representantes de organismos e pastorais da Igreja, que são convidados, bem como os assessores das Comissões Episcopais Pastorais da entidade.

Ano Jubilar

Além de se debruçaram sobre o tema central, os bispos ainda abordaram em suas discussões outros temas secundários, como às celebrações dos 70 anos de criação da CNBB, as quais terão início justamente nesta assembleia e vão se estender até o mês de outubro, quando se comemora o aniversário da Conferência, além de outros seis temas prioritários e cerca de 30 temas diversos.

Dom José Francisco, arcebispo de Niterói e Presidente do Regional Leste 1 – CNBB, nos contou sobre o sentimento presente entre os bispos na Assembleia e quais os temas que os pastores da Igreja no Brasil abordaram nestes dias de encontro – “O clima foi de fraternidade, esperança e busca de comunhão. O tema central da Assembleia foi: Igreja Sinodal –  Comunhão, Participação e Missão. Este tema está em sintonia com o chamado do Papa Francisco, para caminharmos juntos, tendo em vista a preparação ao Sínodo dos Bispos de 2023. Dentre outros temas relevantes, apreciamos o documento sobre a Palavra de Deus (Estudos 114 da CNBB) a respeito da Animação Bíblica da Pastoral. Outro tema importante discutido foi sobre a revisão do Estatuto Canônico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que está em fase de conclusão. Elaboramos também uma mensagem de esperança ao povo brasileiro.” Dom José recordou ainda que “estamos no Ano Jubilar de preparação para os 70 anos de história e missão da CNBB, que se completam no dia 14 de outubro deste ano, e comemoramos os 15 anos do Documento de Aparecida, que deu novo impulso à evangelização em nosso Continente.” Por fim o presidente do Regional dirigiu à Mãe do Senhor uma prece ao nosso povo, “pedimos à Virgem-Mãe Aparecida, Senhora desses povos tão sofridos, que oriente e conduza sempre nossos passos na direção do Evangelho e da construção do Reino de Deus.”

A Presidência do Regional Leste 1, composta pelo Presidente, Dom José Francisco, pelo Vice-Presidente, Dom Gilson Andrade e pelo Secretário, Dom Tarcisio Nascentes, participou ativamente da 59ª Assembleia Geral da CNBB. Durante o encontro do episcopado brasileiro, os bispos do Estado do Rio de Janeiro, também se reuniram para debater temas próprios da Igreja em nossa realidade local.

A seguir você confere na íntegra a Mensagem da 59ª Assembleia Geral da CNBB ao Povo Brasileiro ou clique aqui para fazer o download do Documento em PDF.

MENSAGEM AO POVO BRASILEIRO

 

 

59ª. Assembleia Geral da CNBB

 

“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).

 

Guiados pelo Espírito Santo e impulsionados pela Ressurreição do Senhor, unidos ao Papa Francisco, nós, bispos católicos, em comunhão e unidade, reunidos para a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de modo on-line e com a representação de diversos organismos eclesiais, dirigimos ao povo brasileiro uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil.

Enche o nosso coração de alegria perceber a explosão de solidariedade, que tem marcado todo o País na luta pela superação do flagelo sanitário e social da COVID-19. A partilha de alimentos, bens e espaços, a assistência a pessoas solitárias e a dedicação incansável dos profissionais de saúde são apenas alguns exemplos de incontáveis ações solidárias. Gestores de saúde e agentes públicos, diante de um cenário de medo e insegurança, foram incansáveis e resilientes. O Sistema Único de Saúde-SUS mostrou sua fundamental importância e eficácia para a proteção social dos brasileiros. A consciência lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a negação de soluções apresentadas pela ciência. Contudo, não nos esquecemos da morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.

Agradecemos ainda, de modo particular às famílias e outros agentes educativos, que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades. Com certeza, a pandemia teria consequências ainda mais devastadoras, se não fosse a atuação das famílias, educadores e pessoas de boa vontade, espírito solidário e abnegado. A Campanha da Fraternidade 2022 nos interpela a continuar a luta pela educação integral, inclusiva e de qualidade.

A grave crise sanitária encontrou o nosso País envolto numa complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, que já nos desafiava bem antes da pandemia, escancarando a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira. A COVID-19, antes de ser responsável, acentuou todas essas crises, potencializando-as, especialmente na vida dos mais pobres e marginalizados.

O quadro atual é gravíssimo. O Brasil não vai bem! A fome e a insegurança alimentar são um escândalo para o País, segundo maior exportador de alimentos no mundo, já castigado pela alta taxa de desemprego e informalidade. Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum. Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se a dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais, a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio ambiente e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum.

Tudo isso desemboca numa violência latente, explícita e crescente em nossa sociedade. A crueldade das guerras, que assistimos pelos meios de comunicação, pode nos deixar anestesiados e desapercebidos do clima de tensão e violência em que vivemos no campo e nas cidades. A liberação e o avanço da mineração em terras indígenas e em outros territórios, a flexibilização da posse e do porte de armas, a legalização do jogo de azar, o feminicídio e a repulsa aos pobres, não contribuem para a civilização do amor e ferem a fraternidade universal.

Diante deste cenário esperamos que os governantes promovam grandes e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988, já tão desfigurada por meio de Projetos de Emendas Constitucionais. Não se permita a perda de direitos dos trabalhadores e dos pobres, grande maioria da população brasileira. A lógica do confronto que ameaça o estado democrático de direito e suas instituições, transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.

Nesse contexto, iremos este ano às urnas. O cenário é de incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança. Nossas escolhas para o Executivo e o Legislativo determinarão o projeto de nação que desejamos. Urge o exercício da cidadania, com consciente participação política, capaz de promover a “boa política”, como nos diz o Papa Francisco. Necessitamos de uma política salutar, que não se submeta à economia, mas seja capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, como as conquistas da Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135 de 2010, que afasta do pleito eleitoral candidatos condenados em decisões colegiadas, e da Lei 9.840 de 1999, que criminaliza a compra de votos. Não existe alternativa no campo democrático fora da política com a ativa participação no processo eleitoral.

Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto. Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro. Reiteramos nosso apoio às Instituições da República, particularmente aos servidores públicos, que se dedicam em garantir a transparência e a integridade das eleições.

Duas ameaças merecem atenção especial. A primeira é a manipulação religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos, que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo. A autonomia e independência do poder civil em relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem parte do patrimônio da civilização ocidental. A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade. Carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências, elas modificam a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e o respeito aos resultados nas eleições. A democracia brasileira, ainda em construção, não pode ser colocada em risco.

Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural. Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve. Todos os cristãos somos chamados a preocuparmo-nos com a construção de um mundo melhor, por meio do diálogo e da cultura do encontro, na luta pela justiça e pela paz.

Agradecemos os muitos gestos de solidariedade de nossas comunidades, por ocasião da pandemia e dos desastres ambientais. Encorajamos as organizações e os movimentos sociais a continuarem se unindo em mutirão pela vida, especialmente por terra, teto e trabalho. Convidamos a todos, irmãos e irmãs, particularmente a juventude, a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna. Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, obtenha de Deus as bênçãos para todos nós.

 

Brasília (DF), 29 de abril de 2022.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS) e 1º Vice-Presidente CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo Eleito de Cuiabá (MS) e 2º Vice-Presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo Auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) e Secretário-Geral da CNBB