Nossos mortos têm voz: Chacina da Baixada completa 18 anos

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A data de 31 de março de 2005, ficou marcada negativamente na história da Baixada Fluminense, conhecida por ser uma das noites mais violentas da região, quando ocorreu a “Chacina da Baixada”.

Há exatos 18 anos, cinco policiais militares lotados no 15° BPM (Caxias) à paisana, em forma de retaliação e vingança por questões ocorridas dentro da corporação, se reuniram em Nova Iguaçu, partindo friamente e dizimando vidas pelas ruas, até a cidade de Queimados, alvejando quem era visto pela frente de forma indiscriminada, desferindo centenas de tiros contra as vítimas, criando um verdadeiro caminho de horror

Como resultado dessa cruel ação, 30 pessoas foram baleadas e 29 pessoas morreram, entre as vítimas mulheres, crianças, adolescentes, o critério usado era atirar em qualquer um. A repercussão nacional e internacional foi grande, como não poderia deixar de ser em algo do tipo, a Chacina da Baixada marca a memória daqueles que perderam suas vidas, de todos os moradores da Baixada de forma geral, relembrando a insegurança vivida na região e a trajetória de mães e familiares de vítimas de violência de Estado.

Dom Gilson Andrade, bispo de Nova Iguaçu, deixou uma mensagem de acolhimento aos familiares e um pedido de mansidão a sociedade, valorizando a vida humana:

Hoje faz 18 anos da “Chacina da Baixada” onde 29 pessoas foram assassinadas. Convém guardar a lembrança deste fato triste de nossa história para que não se repita e para que mantenhamos firme o nosso empenho na construção de uma cultura do encontro e da paz! Nossa solidariedade aos parentes, pais e mães, das vítimas dessa violência e de tantas outras que infelizmente mancham de sangue o chão dessa amada terra. Que Jesus Crucificado e a Senhora da Piedade nos ajudem e nos inspirem gestos de mansidão e coragem para valorizar a vida humana em todas as suas etapas.

Após a chacina, foi criada por familiares das vítimas, a Rede de Mães e Familiares Vítimas da Violência de Estado da Baixada Fluminense, um coletivo com o intuito de consolidar uma rede de luta e resistência, para reclamar a morte de seus familiares, cobrando a responsabilidade dos agentes e do próprio estado, além do acolhimento a outras mães e familiares com a mesma situação de perda. A rede é acompanhada pelo Fórum Grita Baixada, organismo que tem o Centro dos Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, como um de seus precursores na luta contra todo o tipo de violência no território da Baixada Fluminense.

Fórum Grita Baixada

O Fórum Grita Baixada nasceu em 2012, como um espaço de diálogo, formação e incentivo a organização, articulação e mobilização para a busca de soluções da sociedade civil para as problemáticas sociais e de direitos humanos na Baixada Fluminense. Por isso, o FGB entende que se faz necessário não só fazer a memória, mas também incidir politicamente e exigir:

  • Do estado brasileiro a criação de legislação e de tipificação do crime de desaparecimento forçado de pessoas, de modo que políticas públicas possam ser criadas para enfrentar essa violação gravíssima ao direito humano.
  • O fim da violência policial e das ilegalidades e arbitrariedades do estado brasileiro.
  • A atuação exemplar e ágil do Ministério Público, responsável pelo controle da atividade policial.
  • Que o estado brasileiro apresente medidas concretas de redução da violência letal (homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e das mortes provocadas pela ação policial), bem como, a criação e implementação do uso de tecnologias e mecanismos de transparência e controle da atividade policial como uso de câmeras nos uniformes e viaturas, monitoramento de armas e munições, fortalecimento da perícia criminal e seus profissionais e instauração de perícia independente nos estados onde isso não ocorre.
  • Leis e mecanismos mais eficazes contra a atuação das milícias, do crime organizado, e de participação direta ou indireta de gestores públicos em organizações criminosas.
  • Das redes sociais como Instagram, WhatsApp, Facebook, Twitter, entre outras, controle e rapidez na identificação de páginas e postagens de promoção de fake news, discursos do ódio, racismo, feminicídio, lgbtfobia, violência política, apologia ao crime e à morte, bem como, os linchamentos virtuais e páginas com lista de pessoas marcadas para morrer.
  • Criação e o funcionamento de leis e ações de investimento maciço em educação, cultura, esporte, trabalho e renda, saúde, educação e assistência social.
  • Atenção e atendimento público psicossocial e jurídico especializado em violência de estado e desaparecimentos forçados de pessoas e aos familiares das vítimas.
  • Medidas de reparação moral e econômica aos familiares das vítimas de violência de estado.