Páscoa da reconciliação

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Anualmente celebramos a festa da Páscoa do Senhor, festa central da fé cristã. A Ressurreição de Cristo é uma realidade que os seus seguidores próximos, sobretudo os Apóstolos, tiveram acesso. Eles se tornaram testemunhas deste fato extraordinário e único na história. Eles não apenas encontraram um túmulo vazio, mas o próprio Cristo ressuscitado se mostrou a eles de forma que puderam tocá-lo e comer com Ele, como antes o faziam.

Cristo ressuscitou de forma única. Diferentemente daqueles que tinham sido ressuscitados por Ele, como aconteceu com Lázaro, Jesus ao ressuscitar não morre mais, e a morte já não o domina. Trata-se da posse da vida. Em palavras de Bento XVI, “a porta da morte está fechada, ninguém dali pode voltar para trás. Não existe uma chave para esta porta férrea. Cristo, porém, possui a chave. A sua Cruz abre de par em par as portas da morte, as portas irrevogáveis. Elas agora já não são intransponíveis. A sua Cruz, a radicalidade do seu amor é a chave que abre esta porta. O amor d’Aquele que, sendo Deus, se fez homem para poder morrer – este amor tem a força para abrir esta porta. Este amor é mais forte que a morte.” (7 de abril de 2007)

A força de vida se revela no amor irrevogável de Deus pela humanidade criada por Ele. Assim, este fato singular, acontecido na história concreta dos homens a acompanha, nos seus altos e baixos, nas suas luzes e sombras. Cristo ressuscitado abre perspectivas novas e cheias de esperança. O cristão olha para todas as realidades com a esperança da possibilidade da vitória da vida. Aquilo que era impossível para os seres humanos, Deus tornou possível.

Na celebração da Vigília Pascal, o celebrante acende uma grande vela, o “círio pascal”, na qual se contêm algumas inscrições, entre as quais, o ano em curso. E ao fazer a incisão nos números do ano no círio ele diz: “a Ele (a Cristo) o tempo e a eternidade, a glória e o poder, pelos séculos sem fim. Amém!”. Cremos que os fatos que marcam cada geração não caem no vazio de um determinismo ou fatalismo irracional, mas estão sob a luz do Ressuscitado e, por isso, em todas as circunstâncias há possibilidades de vida, por mais paradoxal que isso possa soar aos nossos ouvidos.

Tendo presente esta perspectiva, os bispos do Estado do Rio lançamos uma proposta para este tempo da Páscoa. Desejamos que a luz da vida do Ressuscitado possa alcançar e transformar as situações de ressentimentos, mágoas e divisões que têm marcado nossa história recente. É possível superar o fechamento dos corações não apenas porque se decide, mas sobretudo porque Cristo venceu o ódio e Ele nos torna capazes de superarmos as nossas divisões.

Propomos que o segundo domingo da Páscoa deste ano, dia 16 de abril, o chamado Domingo da Misericórdia, seja vivido como um Dia Diocesano de Reconciliação. Queremos experimentar a força do amor do Ressuscitado para retirarmos as barreiras que nos separam uns dos outros na família, nos ambientes de trabalho, vizinhança, Igreja, etc. Este pode ser um gesto concreto para que a força da Páscoa atue em nossa história pessoal.

Tantos eventos no mundo atual nos causam tristeza e perplexidade. Recentemente vivemos isso, com o atentado àquelas crianças em Blumenau. Por todo o lado notícias de violência e tragédias. Que a Páscoa deste ano nos ajude a colocar um sinal de esperança, através da união dos corações e do perdão. A grande transformação que desejamos na sociedade só acontecerá a partir de corações renovados pelo perdão e pela reconciliação. Que o Cristo ressuscitado nos dê a força da sua Páscoa. Feliz Páscoa.